Mecanismo de ação dos ácidos e hidróxidos na modelação dos cabelos
A sociedade contemporânea tem buscado, cada vez mais, promover a mudança da forma natural dos cabelos. Esse fato está associado à melhora do aspecto estético, autoestima e estilo.
As transformações permanentes dos cabelos, como ondulações permanentes, relaxamentos ou alisamentos capilares, são realizadas pela quebra e realinhamento das pontes dissulfeto (ligações de enxofre entre as proteínas que compõem as fibras do cabelo). A promoção da quebra dessas ligações é feita por reações químicas.
Os ativos para quebra das pontes dissulfeto podem apresentar caráter ácido ou básico. O mecanismo de ação dos ácidos é diferente do mecanismo de ação das bases.
Os produtos compostos por ácidos em processos de transformação capilar, normalmente, apresentam formulações de pH básico. Esse pH é importante para abrir as cutículas dos fios e permitir a entrada do ativo ácido ao córtex para iniciar as reações químicas de transformação.
Os ativos ácidos mais usados e autorizados pela ANVISA são os mercaptanos, como o ácido tioglicólico. Esse, ao ser misturado com o hidróxido de amônio formará o ativo tioglicolato de amônio. O monotioglicolato de glicerol também é usado como ativo ácido em relaxamentos ou ondulações permanentes. O bissulfato de sódio não é considerado um ácido, mas seu mecanismo de ação na transformação capilar é semelhante.
Os ácidos, no córtex, fornecem cargas negativas para os enxofres que compõem as pontes dissulfeto, além de liberarem o íon H+ no meio. A carga negativa irá desestabilizar a ligação entre os enxofres e essa será quebrada. Em seguida, o H+ liberado no cabelo irá ligar ao enxofre para estabilizá-lo. Essa primeira etapa de reação química é denominada de reação de redução. Consequentemente, os cabelos perdem resistência e desestruturam, tornando mais flexíveis e fáceis de serem manipulados. Durante esse procedimento, o profissional poderá dar novas formas ao cabelo, como promover desondulação ou ondulações por meio de acessórios. Após dar nova forma ao cabelo, para mantê-la, é necessário cessar a ação do produto e refazer as pontes dissulfeto, devolvendo parcialmente a resistência do cabelo e o mantendo na nova posição (forma) estabelecida. Dessa forma, entra a segunda etapa de reação química por meio da adição de um neutralizante.
O neutralizante, ao ser aplicado, agirá no córtex liberando átomos de oxigênio. O oxigênio liberado irá reagir com o hidrogênio que antes estabilizava os enxofres. Essa reação química é denominada de reação de oxidação e tem como produto moléculas de água. Em seguida, os enxofres voltam a ligar entre si refazendo as pontes dissulfeto, reestruturando o cabelo na nova posição fornecida a ele (ondulação ou desondulação).
Os neutralizantes para os ativos ácidos mais comumente usados tem como base o peróxido de hidrogênio.
Os hidróxidos promovem reações químicas diferentes que os ácidos na haste capilar. Todo hidróxido tem a capacidade de liberar hidroxila (OH–) no meio. A hidroxila é a responsável por agir no córtex na promoção da quebra das pontes dissulfeto e está diretamente associada ao pH do produto. Quanto maior o pH do produto, maior quantidade de hidroxilas serão liberadas. Dessa forma, os ativos a base de hidróxido que apresentarem maior pH serão os que possuem também maior quantidade de ativos para transformação dos fios.
Os hidróxidos permitidos pela ANVISA em processos de relaxamento e alisamento capilar são os hidróxidos metálicos (hidróxido de sódio, hidróxido de lítio e hidróxido de potássio) e o hidróxido de guanidina. Esse último é formado pela mistura do hidróxido de cálcio e o carbonato de guanidina.
Novamente, o pH alcalino das formulações abrirá a cutícula para a entrada do ativo. A hidroxila liberada no córtex pelo ativo hidróxido irá agir nas pontes dissulfeto quebrando a ligação entre o enxofre e seu aminoácido (cistina). A cistina, ao perder enxofre, dará origem a um novo aminoácido denominado de lantionina. Essa reação química é denominada de lantionização.
A lantionização tornará os cabelos mais flexíveis podendo ser manipulados para promover alisamento ou relaxamento capilar.
Após a ação do hidróxido, o produto será neutralizado. Os neutralizantes dos hidróxidos apresentam, principalmente, o ácido láctico e o ácido cítrico.
O ácido do neutralizante liberará íon H+. Esse íon reagirá com a hidroxila (ativo), formará uma molécula de água e cessará a ação do produto. Em seguida, as pontes dissulfeto precisarão ser refeitas para reestruturar o cabelo. No entanto, as ligações de enxofre quebradas pelo hidróxido não serão mais reestabelecidas, uma vez que houve a perda de enxofre por um dos aminoácidos que compunham essa ligação. A lantionina, originada no lugar da cistina, irá realizar uma ligação química entre seu carbono e o enxofre de outra cistina. Será formada então uma ligação entre um enxofre e um carbono no lugar das pontes dissulfeto. Essa nova ligação química formada é denominada ligação de lantionina.
Os hidróxidos, por apresentarempH extremamente alcalino, mesmo após a neutralização, dificultarão os cabelosa retornarem ao seu pH natural. Assim sendo, será necessário utilizar um xampu de acidez balanceada ou uma loção neutralizante para devolver o pH ácido dos cabelos.
É importante ressaltar que os produtos para a transformação das estruturas do cabelo são nocivos à saúde quando em excesso a exposição ou uso inadequado. Dessa forma, é necessário critérios para se trabalhar com tais produtos. Observe sempre as contra indicações e faça uma correta avaliação do couro cabeludo e tipo de cabelo do cliente para selecionar o produto mais adequado a ser aplicado.
Por Juliano Albergaria