Em um dos hotéis em que estive nas últimas férias havia um excelente serviço de buffet americano. Um café da manhã digno de quem trabalha muito, e tem que esperar pelas férias para poder dedicar mais tempo aos momentos de refeição. O salão tinha um clima fresco, música ambiente, decoração leve e flores nas mesas; os profissionais da brigada, com serviço impecável. No buffet, frutas frescas e secas, queijos e laticínios variados, brioches, quitandas, bolos trufados acompanhados de café, chás, sucos, um vinho licoroso e guarnições quentes: perfeito.
Perfeito, quando se tem o domínio sobre o que fazer nesta situação social. Bem perto de mim vi um distinto cavalheiro em sofrimento, e visivelmente constrangido, por não saber o que fazer diante daquele serviço de buffet. Meia idade, bem vestido, rodava de um lado pra outro diante das várias bandejas de quitutes. De repente, como alguém que tem uma decisão urgente a tomar, arrematou o primeiro talher à sua frente e foi em direção à cesta de pães. Depois, foi rapidamente para sua mesa, tentando estar despercebido com um mini-pão francês que ele havia espetado com o garfo de sobremesa!
Tenho certeza de que este cavalheiro, nesta situação, não teve prazer algum no tão esperado desjejum de férias. Ele não sabia onde depositar o pão, talvez nem qual a forma correta de comê-lo, além disto, também parecia incomodado por estar diante de outras pessoas.
No curso de etiqueta profissional, esclareço muitas dúvidas dos alunos sobre o comportamento correto na mesa. Costumo dizer que correto mesmo é poder desfrutar, com prazer, de cada alimento ou bebida, poder ficar realmente relaxado e tranqüilo diante de uma mesa bem posta, identificando os diferentes tipos de situação social. E isto só é possível quando se conhece bem as regras, os utensílios e o funcionamento dos serviços.
No mercado competitivo, os profissionais precisam estar preparados para os compromissos que são marcados em restaurantes e hotéis, onde são feitas convenções e negociações grandiosas. Ali, estávamos de férias, relaxados, mas o conhecimento de etiqueta clássica teria sido a ferramenta necessária para que aquele cavalheiro pudesse ter aproveitado melhor o seu pomposo café da manhã. A partir desta situação, fico imaginando como ele se sairia em um jantar da empresa, com os principais investidores, para decidir projetos importantes.
Afinal, modos elegantes não saem de férias!
Markelly Ortlieb é psicóloga e professora de Etiqueta e Imagem Pessoal